sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Teatro Popular, Niterói, RJ - Oscar Niemeyer

Brises entre vidros duplos

Parte do conjunto de obras planejadas para o Caminho Niemeyer, em Niterói, o Teatro Popular permite descortinar o mar da baía de Guanabara através de fachada dupla com painéis de vidro e brises metálicos, que atendem à estética e promovem conforto ambiental.
“Basta pensar nos desenhos que realizei para um mural do Teatro Popular para constatar que no Caminho Niemeyer também se deu a oportunidade de promover a integração das artes plásticas com a arquitetura. Uma preocupação que não se afasta de mim desde os projetos que criei na Pampulha, em Belo Horizonte, em particular a igreja de São Francisco de Assis”, ressalta o arquiteto Oscar Niemeyer, autor do conjunto cultural que leva seu nome, em construção desde a década de 1990, em Niterói, RJ.

Em 1991, Niemeyer foi convidado pelo então prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, para desenvolver o projeto do Museu de Arte Contemporânea. O arquiteto aceitou o desafio e, segundo ele, “foi com o êxito alcançado pelo MAC, inaugurado em 1996, que Silveira vislumbrou a construção de uma série de obras - do mar até aquele museu -, depois batizadas de Caminho Niemeyer”. Com implantação às margens da baía de Guanabara, o projeto tem como ponto de partida uma grande praça junto ao mar. Nela estarão o Teatro Popular, as catedrais católica e batista, a Fundação Oscar Niemeyer e o Memorial Roberto Silveira. As outras edificações - Museu de Arte Contemporânea, Museu do Cinema Brasileiro e Estação Hidroviária de Charitas - serão instaladas ao longo da baía.






Construído em concreto armado, o Teatro Popular é uma grande cobertura curva que se origina nas empenas do edifício. Os 3,5 mil metros quadrados de área construída se distribuem nos pisos térreo e superior. Neste encontra-se o auditório, com capacidade para 400 lugares. Do térreo parte uma rampa helicoidal, também de concreto armado, que conduz o visitante ao foyer do teatro, espaço que tem 580 metros quadrados.

As fachadas do edifício receberam diferentes soluções, calculadas e executadas pela Engevidros. Na área do foyer, adotou-se um grande pano de vidro com portas antipânico e sanca de iluminação revestida com painel de alumínio composto. A face noroeste, voltada para a baía de Guanabara, tem envidraçamento duplo com brises internos, enquanto a oposta a ela recebeu acabamento em azulejo amarelo e pinturas do próprio arquiteto.

As soluções arquitetônicas desenvolvidas para o teatro garantem um espaço para atender tanto grandes como pequenos públicos. O palco é reversível. Seu fundo é, na realidade, uma porta que se abre para a praça, originando um espaço para espetáculos ao ar livre, para cerca de 10 mil pessoas. Com dez metros de largura, cinco metros de altura e 500 quilos, a porta de correr tem duas folhas, foi fabricada com perfis metálicos e revestida com painéis de alumínio composto, nas cores vermelha e preta. Com acionamento motorizado por controle remoto, ela pode abrir-se para o grande pátio. Suas ferragens de motorização estão embutidas nas paredes laterais duplas. A esquadria foi tratada acusticamente com preenchimento de lã de rocha de alta densidade.

Desenvolvido pelo arquiteto Robson Jorge Gonçalves da Silva, do escritório Cena Arquitetura, o teatro, do tipo italiano, conta com caixa cênica em laje de concreto dupla na forma de onda, com altura que permitiu implantar a infra-estrutura cenotécnica para o recolhimento vertical de cenários e vestimentas de palco, tanto para a platéia interna como para a da praça, através da segunda boca de cena, ao fundo da caixa. Segundo Robson, “o tratamento acústico da platéia foi trabalhado para o uso da palavra, com tempo de reverberação calculado em torno de 0,75 segundos, com recomendações especiais para isolamento de ruídos externos nas esquadrias de vidro e no sistema de ar condicionado, incluindo a casa de máquinas”.





Fachada dupla

Do interior do teatro, através da fachada noroeste, inteiramente de vidro, é possível descortinar o mar da baía de Guanabara. Assim como no museu que leva seu nome, em Curitiba, Niemeyer especificou para o Teatro Popular o mesmo conceito de fachada dupla, que atende à estética proposta e satisfaz o tratamento termoacústico da edificação. Ela possui duas peles de vidro laminado de dez milímetros, na cor cinza, não refletivo, interna e externamente. Eqüidistantes 240 milímetros, os panos de vidro, modulados em 1.600 x 1.600 milímetros, formam uma câmara de ar que abriga chapas de alumínio, dobradas em forma de hexágono, com 160 milímetros de diâmetro circunscrito e de profundidade. Montadas em forma tridimensional, que lembram colméias, as chapas exercem a função de brises metálicos. Sua superfície foi tratada com pintura eletrostática na cor preta e acabamento fosco.

Esses brises estão fixados na estrutura metálica, composta por perfis dispostos na diagonal, configurando, nos quadros regulares, quadrados inclinados, e junto das lajes, formas irregulares, mas sempre definidas pelas linhas retas da estrutura, inclinadas 45 graus em relação à vertical. Eles estão encaixados na estrutura de aço e fixados com parafusos de aço inoxidável.

No trecho em que a fachada é curva, foram instalados quadros periféricos preenchidos com os brises, exatamente nas medidas dos vãos entre a estrutura da grelha. São dimensões diferentes, oriundas do encontro das linhas retas inclinadas a 45 graus da estrutura de aço com as curvas superiores da laje inclinada inferior do auditório. No caso dos vãos retangulares, essa medida é de 1.510 x 1.510 milímetros. A modelação e a medição dos quadros foram feitas in loco, previamente com painéis de madeira aglomerada. Por serem modelados, os quadros periféricos tiveram que ser fabricados um a um. Na fachada toda foram instalados 150 quadros metálicos. Os vidros foram colados nos perfis de alumínio com silicone structural glazing.

Junta telescópica

Todas as cargas incidentes sobre a fachada, em especial a pressão de vento, foram consideradas para o desenvolvimento do projeto. Seguindo as orientações do calculista, a Engevidros resolveu de diferentes maneiras a deformação da estrutura de suporte periférico de concreto. Na base inferior, cuja deformação é mínima, a estrutura metálica foi apenas engastada na do edifício. A parte superior, com deformação suficiente para o esmagamento, recebeu junta telescópica capaz de absorver o trabalho da laje da cobertura de concreto armado. As ancoragens e as juntas foram dimensionadas conforme as normas. Entre os quadros de vidro, as juntas de 14 milímetros foram vedadas com silicone de cura neutra.

Segundo o engenheiro Ricardo Macedo, diretor da Engevidros, a distância de dez milímetros nos vidros internos, entre a pele e a estrutura metálica, permite a eventual entrada de insetos e sujeira na câmara. Para auxiliar na manutenção e na limpeza, a caixilharia fixa, voltada para o interior do edifício, possui quadros removíveis. Na face externa, para evitar a condensação de umidade entre os vidros, a caixilharia é fixada no vão e selada com silicone. Uma fita isolante entre os brises de alumínio e a estrutura metálica impede o contato entre os dois materiais e a possibilidade de ocorrer corrosão eletrolítica.

Após calcular, fabricar e montar a estrutura metálica, a Engevidros começou a execução da fachada pela instalação dos vidros externos. Em seguida foram colocados os brises e por último os caixilhos internos. As soluções e acabamentos foram feitos com rufos de chapas de alumínio e material isolante.

Devido ao desenho curvo do edifício, a fachada noroeste, com 20 metros de largura, recebeu no trecho superior vidros e brises modelados em arco. No restante, os vidros são retos. Na parte inferior, os quadros apresentam alturas diferentes para acompanhar a inclinação da rampa. Dessa inclinação resultou um vão com pé-direito de medidas distintas: do térreo até a cobertura, ele é de 12,30 metros; na subida da rampa ele vai diminuindo e, ao se encontrar com a fachada do foyer, tem 6,30 metros.

Vidros autoportantes

Na área do foyer, para atender à estética arquitetônica, a fachada de 29,75 metros de largura e 6,30 metros de altura foi vedada com uma única esquadria, composta por vidros temperados autoportantes incolores de dez milímetros e portas automáticas. “O arquiteto não queria perfis aparentes, e sim que o envidraçamento fosse o mais livre possível". A solução foi adotar uma viga horizontal de aço de 400 x 400 milímetros, apoiada em dois pilares de concreto, que divide a esquadria nos trechos superior e inferior. No primeiro, os quadros de vidro possuem 3,30 metros de altura; no segundo, medem 2,40 metros. A viga de aço ganhou outras funções. Revestida com painéis de alumínio composto na cor prata, tornou-se uma sanca de iluminação, que também esconde todos os equipamentos da porta automática”, explica Macedo.

Na parte inferior da esquadria estão as portas deslizantes com sistema antipânico e caixilhos transparentes, produzidos com perfis de alumínio e vidros temperados autoportantes. Conforme determinação do arquiteto, na fixação das 30 chapas de vidro, de 2.100 x 3.300 milímetros, foi utilizado um sistema de baguetes compostos por perfis de alumínio de 25 x 50 milímetros. Na parte superior também foi prevista uma junta telescópica, evitando o esmagamento pelo trabalho da laje superior. Para haver a troca de ar e auxiliar no tratamento térmico, os vidros superiores, na altura do teto, possuem vários furos, conforme orientação do projeto de ar condicionado.

O sistema antipânico das portas tem um dispositivo que permite saída de emergência do tipo rota de fuga. Em caso de evacuação emergencial do ambiente, as portas e os caixilhos fixos se transformam, com um leve impacto, em folhas pivotantes, promovendo abertura quase total do vão. O sistema de automatização das portas é composto por um grupo motor comandado por placa microprocessadora de 16 bits. São dois motores de corrente alternada com controle VVVF. O sistema tem fecho eletromagnético também comandado pela placa microprocessadora.














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